Os sonhos do semelhante
Na ânsia de tentar
manter aceso o clima das manifestações de rua, grupos de Guarujá vêm se
reunindo em protestos isolados, mas nem sempre alcançam seu objetivo de
mobilizar a população. Isso ocorre mais por falta de uma base de conhecimento
das lideranças do que por inércia da massa. As queixas são difusas, como se
tudo estivesse errado e a vida devesse recomeçar do zero. Porém, viver numa
democracia pressupõe conhecer seu funcionamento.
Há muitas coisas
erradas em Guarujá. Não
há equipamentos públicos suficientes para atender as necessidades da população
em setores diversos, como saúde, educação, assistência social e geração de
renda. A riqueza que por aqui circula não diminui o abismo social entre os mais
pobres e os mais fartos.
E, antes que as
patrulhas ideológicas se apressem em condenar o escriba à forca, é preciso
esclarecer que não há quem torça pelo seu fracasso. Ao contrário, as pessoas de
bem querem ver as transformações ocorrendo de verdade, sem o risco de
retrocessos, o que a fragilidade de algumas mobilizações permite. Trocando em
miúdos, não dá para brigar contra quem não quer briga.
Bom seria se toda
essa energia fosse canalizada para a definição de uma agenda de mudanças, que
falasse o idioma das ruas e também apontasse para um cenário de possibilidades
reais de transformações. Quem educa, quer a volta da Diretoria de Ensino do
Estado. Quem cuida, quer mais aparelhos de ultrassom na cidade. E por aí vai.
Afinal, quem ama preza pelo sonho de seu semelhante.
Valdir Dias
Jornalista -
Colaborador