YURI COGHE
Há quase três anos,
começava a escrever sobre futebol. Motivado pela campanha avassaladora do
Santos no primeiro semestre de 2010, teci comentários sobre a relação dos novos
craques do time e a mídia esportiva brasileira. Mais especificamente, Neymar e
seu futuro. Jogadas maravilhosas afastavam o olhar da imprensa e dos torcedores
no comportamento do atacante, que, por algumas vezes, me fez ter dúvidas sobre
o bom andamento e a continuidade de sua carreira. Pouco tempo depois, o jogador
''explodiu'' em campo, tendo publicamente desrespeitado Dorival Júnior, seu
treinador na época. A partir daí, a mídia mudou. Tratavam Neymar como um
fora-da-lei, muitas vezes chamando-o de moleque mal criado e mimado. Eu, contudo,
não estava só tranquilo por ter visto a prova de que minhas críticas foram
pertinentes, mas também - e principalmente - por contar com a certeza de que o
jovem iria mudar.
E mudou. Se um dia Renê
Simões afirmou que estávamos criando um monstro no futebol brasileiro, de fato,
estavámos. Só que não na conotação que o técnico tentou colocar. Neymar
transformou-se não apenas em um grande jogador, como um exemplo de ética dentro
e fora dos gramados. A comissão por detrás do jogador foi de importância fundamental
neste processo, mas se o atacante não fosse receptivo a aprender, nada disso
teria acontecido. Humilde, Neymar decidiu melhorar. Decidindo partidas de
futebol e sendo estrela fora dos gramados, o atleta se propagou a um nível
jamais pensado por aqueles cegos entusiastas de 2010. Conquistou não só títulos
e premiações individuais, como o status de herói e ídolo de crianças e jovens
pelo Brasil. A imprensa, contudo, parecia não se satisfazer com o sucesso de
Neymar. ''Ele tem que sair'', ''ele se joga demais'', e outras frases
ignorantes eram regularmente proferidas, tentando esmaecer o brilho do camisa
11. Ter o melhor jogador brasileiro que se viu em um razoável período jogando o
fino da bola em território nacional, vestindo a camisa do seu clube de coração
e abrilhantando os gramados brasileiros parecia pouco.
E era, para Neymar. O
Brasil, conquistado pelo camisa 11, se tornou pequeno. Nem mesmo a América era
suficiente. O gênio pedia mais. Mais qualidade dos jogadores ao seu redor, um
calendário melhor organizado, um jogo mais moderno e um produto mais efetivo.
Neymar decidiu brilhar na Europa, partindo para conquistar assim, o mundo.
Despedindo-se do Santos, chorou ao ver a fantástica carreira que ele construiu
no seu clube do coração, o qual deixa pela porta da frente. Agora, o desafio é
outro, o passo foi dado. Ao cair como uma luva na ponta esquerda do Barcelona,
Neymar encontrará os companheiros que merece, servindo como ponto de renovação
de um estagnado Barcelona, que insiste em não sair do topo, de onde, realmente,
não sairá. Pois Neymar e Messi tratarão de carregar o time a um patamar em que
poucos se encontram, o que Neymar merece estar. O Brasil tem de agradecer pelo
craque ter se mantido por tanto tempo no país, mesmo quando o futebol brasileiro
não apresentava condições para o completo desenvolvimento de suas habilidades.
Agora, para nós, resta glorificar o futuro melhor do mundo em gramados
internacionais, e esperar pelo dia em que saberemos tratar apropriadamente os
novos craques de nossa maior paixão nacional.