O que é que
a Fifa não tem, mas a baiana tem
Por Roberto
Sassi e Colaboradores
Joseph
Blatter, presidente da Fifa, não sabe de nada. Nos jogos da Copa das
Confederações e Copa do Mundo, no Brasil, o acarajé - ‘bolinho de fogo’, que árabes levaram para a África e, depois
chegaram ao Brasil pelas mãos dos negros e negras escravizados terá sua venda
proibida nas partidas de futebol.
O acarajé e
as baianas estão banidos dentro e das proximidades dos estádios, em Salvador, e
nos demais.
Quem diria
que um Joseph qualquer mandaria até no que o povo gosta e quer comer antes e
durante uma ‘pelada’ oficial, só porque é comandada por uma federação
internacional de futebol?
Se estivesse
vivo, o compositor e cantor baiano Dorival Caymmi estaria cantarolando suas
letras geniais no ouvido do tal Joseph presidente da Fifa, para lembrar que o
‘bolinho de fogo’ - quente ou frio (com ou sem pimenta) é tão tradicional na
cultura brasileira que assim foi nomeado oficialmente (leia texto em anexo).
O pior, mais
triste do que pior é saber que a nossa presidenta Dilma cedeu. Concordou com as
exigências do tal Joseph Blatter, matou a cobra e mostrou o pau: ‘Acarajé aqui
nem perto das urnas eletrônicas’ no ano que vem, de eleições e Copa do Mundo.
Nas ruas
próximas e nos campos de futebol, só pode vender cachorro- quente e hambúrguer. Parabéns a todos os gênios que não sabem o
que é a cultura do povo brasileiro.
Ofício da Baiana do Acarajé é comemorado como
Patrimônio Histórico Nacional
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN) registrou no dia 1º de dezembro de 2004 como Patrimônio
Nacional o “Ofício da Baiana do Acarajé” e a importância cultural dos saberes e
fazeres tradicionais aplicados na produção e comercialização das chamadas
comidas de baiana.
De acordo com a Revista Eletrônica do Iphan, a
história da baiana do acarajé começa no período da escravidão, quando os negros
chegaram à Bahia , a partir do século XVI, com seus costumes e religião. As
primeiras baianas de acarajé foram escravas africanas alforriadas.
A relação com a religiosidade era ainda mais forte
e a massa era feita no próprio terreiro, de onde a baiana saia com todas as
obrigações a serem cumpridas a seu Orixá. Através de um canto tradicional, iam
chamando o povo para comprar e comer, usando a expressão em tom de canto “acará
jê” (de akàrà, bola de fogo, e jê, vender). O acarajé e o abará,
são principais produtos do tabuleiro da baiana, eram, ao mesmo tempo, alimentos
para o corpo e para o espírito, preparados nos terreiros de Candomblé para
cultuar os orixás Iansã e Xangô.
Já no final do século XIX, as mulheres tinham a
permissão (dos senhores) para sair no final do dia, com o tabuleiro na cabeça
(protegida por um torço de pano da costa), para comercializar os bolinhos,
feitos de massa de feijão fradinho descascado, cebola, gengibre e camarão.
Depois da abolição, em 13 de maio de 1888, a tradição continuou. Até meados da
década de 70 do século XX, as baianas mantinham o costume de vender o produto
somente à tarde e à noite. Depois que o acarajé caiu no gosto do turista,
passou a ser um dos cartões de visita da culinária baiana e a ser vendido
durante o dia.
O presidente da Fundação Cultural Palmares, Eloi
Ferreira de Araujo declara a importância do quitute para o desenvolvimento sócio-econômico
do país. “O acarajé é uma das contribuições africanas para nossa identidade
nacional, que mais apetece nosso paladar. As baianas com seus tabuleiros, suas
belas vestimentas nos encantam com a venda dos acarajés. Este é o resultado de
uma cultura afro-brasileira e pertence a toda a nação”, afirma.
Reconhecimento – Segundo pesquisadores, a partir da segunda
metade do século passado, as Baianas de Acarajé passaram a ser mais
reconhecidas e valorizadas nacionalmente. Transformaram-se em ícones da cultura
soteropolitana junto a outros aspectos da cultura imaterial, como o jogo da
capoeira ou as festas de rua.
Acarajé na Copa – A FIFA divulgou uma nota em novembro deste ano,
informando sua posição em relação à venda do acarajé nos estádios brasileiros
durante a Copa de 2014. No comunicado, a Federação afirma que o acarajé estará
presente nos tabuleiros das baianas, mas ainda não se sabe qual a
concessionária brasileira ficará responsável pela venda e distribuição dos
alimentos.
A ideia é que os licitantes contemplem nos
cardápios um produto da culinária regional em cada estádio. O objetivo é
refletir a diversidade das regiões no Brasil a partir de uma perspectiva gastronômica.
Até o momento a venda do acarajé em Salvador faz parte das principais propostas
recebidas pela FIFA. O acarajé é um dos quitutes mais procurados pelos turistas
que frequentam a cidade.
Data especial – Em 25 de novembro é celebrado nacionalmente o
Dia da Baiana. Nesta data, centenas delas se reúnem para comemorar no
Pelourinho. De acordo com a Associação das Baianas de Acarajé, Mingau,
Receptivo e Similares do Estado da Bahia (Abam), existem, em Salvador, cerca de
3.500 baianas trabalhando com a venda de quitutes e no receptivo de turistas.
Outra bela homenagem prestada às baianas foi feita
em 2009, quando foi criado o Memorial da Baiana de Acarajé, cujo objetivo é
situar a tradição, a história e demais temas agregados ao seu ofício. Em 2005,
o próprio acarajé foi reconhecido como Patrimônio Cultural de Salvador pela
Câmara Municipal.
Fontes: Correio*, Geledés, Revista Eletrônica do Iphan.
A Preta do Acarajé
Dorival Caymmi
Dez horas da noite
Na rua deserta
A preta mercando
Parece um lamento
Ê o abará
Na sua gamela
Tem molho e cheiroso
Pimenta da costa
Tem acarajé
Ô acarajé é cor
Ô la lá io
Vem benzer
Tá quentinho
Todo mundo gosta de
acarajé
O trabalho que dá pra fazer que é
Todo mundo gosta de acarajé
Todo mundo gosta de abará
Ninguém quer saber o trabalho que dá
Todo mundo gosta de acarajé
O trabalho que dá pra fazer que é
Todo mundo gosta de acarajé
Todo mundo gosta de abará
Ninguém quer saber o trabalho que dá
Todo mundo gosta de abará
Todo mundo gosta de acarajé
Dez horas da noite
Na rua deserta
Quanto mais distante
Mais triste o lamento
Ê o abará