Os velhos
Aécio
Neves, também colaborador deste blog
Ao lembrar a figura do Velho do
Restelo, personagem de Camões que simboliza o pessimismo diante dos novos
tempos, a presidente Dilma Rousseff parece ter se esquecido da trajetória do
próprio partido.
Quando a caravela do Plano Real
estava pronta para zarpar, em 1994, o Velho do Restelo petista foi o primeiro a
insistir: não vai dar certo. Assim também já havia acontecido com a
Constituição de 1988, que o PT ameaçou não assinar.
Ou, ainda, quando expulsou dos
seus quadros os deputados eleitores de Tancredo, desprezando o caminho mais
curto para o reencontro do Brasil com a democracia.
Para decepção desse Velho do
Restelo, o que deu errado foram suas previsões -a ditadura militar chegou ao
seu fim, a Constituição inaugurou um novo tempo e o Plano Real trouxe
estabilidade e prosperidade para o país. O Brasil pôde então singrar por mares
nunca dantes navegados.
A queda da aprovação da
presidente não deveria abalar o governo federal como o fez.
A chefe da nação precisa manter
serenidade para encontrar um caminho consistente a fim de reverter o quadro de
dificuldades que o país está enfrentando.
E, também, para enfrentar a perda de credibilidade internacional manifestada, agora, pela agência Standard & Poor's ao alertar para uma perspectiva negativa da economia brasileira.
E, também, para enfrentar a perda de credibilidade internacional manifestada, agora, pela agência Standard & Poor's ao alertar para uma perspectiva negativa da economia brasileira.
Há um episódio exemplar que
resume a facilidade com que governantes se entregam à avaliação rósea dos
bajuladores. Dizem que, na época da ditadura, a dona do "Jornal do
Brasil" compareceu a um almoço com o então presidente Costa e Silva. Ele
teria se queixado da severidade dos editoriais em relação ao governo.
A interlocutora explicou que o
veículo adotava uma postura de "crítica construtiva". "Agradeço,
mas eu gosto mesmo é de elogio", teria dito Costa e Silva, em resposta que
parece estranhamente atual.
A analogia literária do Velho do
Restelo cedeu lugar à galhofa do ministro da Justiça, que comparou a oposição a
um personagem de desenho animado de sucesso. Aquele que vive reclamando:
"Ó céus, ó vida, ó azar, ó dia...".
A lembrança é boa porque, na
verdade, o personagem combina com os próprios petistas, obrigados a receber
quase todos os dias notícias ruins: o pibinho ("ó céus!"), a volta da
inflação ("ó azar!"), o caos logístico ("ó dia!").
Tendo em vista o nervosismo e a
intolerância manifestados pelo governo nos últimos tempos e a sua crescente
tendência autoritária de desqualificar toda e qualquer crítica, não será
surpresa se os mesmos que, irresponsavelmente, acusaram a oposição pelo episódio
do Bolsa Família concluírem que foi a mesma oposição que arregimentou 70 mil
torcedores para vaiar a presidente da República. Ó vida!