No ato da inscrição, o estudante que se
candidatou ao Enem 2013 precisou responder a perguntas sobre dados
socieconômicos, como a renda mensal familiar e a escolaridade. No entanto, o
formulário tinha um item que foi bastante criticado por alunos nas redes
sociais.
Na questão número 7, o candidato
deveria assinalar, dentre os itens na lista, quais ele possui dentro de casa.
Na relação, entre objetos como TV, geladeira, aspirador de pó, automóvel e
computador, surge a opção "empregada mensalista".
- É um ato discriminatório porque nos
reduziu a objetos. Não foi perguntado se na casa do aluno havia pais, filhos ou
parentes. Só objetos e as empregadas domésticas. E o mais grave é que quem
elaborou esse questionário são pessoas ligadas à educação, formadores de
opinião. Será que eles ensinam para as crianças que empregadas são utensílios
domésticos? - questiona a presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras
Domésticas (Fenatrad), Creuza Maria de Oliveira.
Em nota, o MEC reconheceu a
infelicidade da pergunta. O órgão afirmou que "o ministro Aloizio
Mercadante considera que a forma da pergunta que se refere a trabalhadores
domésticos é inadequada, e vai encaminhar a necessidade de sua adequação, preservando
os critérios técnicos, mas garantindo integralmente o respeito àqueles
trabalhadores".
O questionário é aplicado aos
candidatos do Enem desde 1998. A partir de 2009, passou a ser preenchido pela
internet. O formulário serve para o MEC avaliar o perfil de quem faz o exame e,
com base nisso, elaborar políticas educacionais, como cotas para universidades.
O candidato deve informar, por exemplo, qual a renda familiar mensal, a
escolaridade de seus pais e se trabalhou antes de prestar a prova.
- É um absurdo, num momento em que a
gente está discutindo a legislação das domésticas, o Enem compará-las a
objetos. Essa pergunta é muito infeliz, porque o Brasil ainda tem heranças da
escravidão que parecem vincadas na terra - afirma uma candidata identificada
apenas como Gabriela, que se manifestou contra o questionário com um post no
Facebook.
De acordo com a a socióloga Maria
Salete Souza de Amorim, coordenadora do curso de Ciências Sociais da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), a forma como a pergunta deveria ter sido
feita separadamente.
- Dentre os itens apresentados constam
apenas objetos, portanto não cabe o item 'empregada mensalista'. Seria
necessário criar outra questão com outras categorias para inserir essa
informação - observou a professora.
Já para o professor da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo (USP) Ocimar Munhoz Alavarse,
especialista em questionários socieconômicos, a polêmica seria
"exagerada". Entretanto, como forma de eliminar ambiguidades, a
pergunta específica da empregada mensalista deveria ter sido feita
separadamente.
- O item 7 não necessariamente deve ser
interpretado como posse de bens materiais, pois "ter em sua casa"
pode assumir no português a ideia de haver, existir, encontrar etc., mesmo que
o fato de 'Empregada mensalista' aparecer no rol de utensílios domésticos possa
induzir a interpretações como teriam sido feitas por alguns candidatos. Como
hipótese, poderia haver a alternativa "Empregada mensalista"
separadamente - sugere Alavarse.